A clínica com a criança
Caroline Gouvêa S. Wallner
Caroline Gouvêa S. Wallner
A criança é trazida à clínica a partir de uma demanda dos pais, e no caso das crianças que atendi, uma demanda das mães.
Durante o tempo de atendimento com crianças de 6 a 8 anos no meu consultório, pude perceber como o brincar faz parte da transmissão do subjetivo delas para com o analista.
Participar desse mundo lúdico da criança favorece à transferência na clínica. A partir dos jogos, dos desenhos, das brincadeiras, as crianças vão representando suas figuras parentais e expressando seus sentimentos e atitudes.
Participar desse mundo lúdico da criança favorece à transferência na clínica. A partir dos jogos, dos desenhos, das brincadeiras, as crianças vão representando suas figuras parentais e expressando seus sentimentos e atitudes.
Sabemos que antes de uma criança nascer há uma história que a situa ao nível da cultura e da família da qual ela fará parte. Dessa maneira, há uma trama simbólica construída a partir de duas linhagens familiares em cuja malha a criança fica presa. Não é um lugar vazio de significações que a espera: será um menino, uma menina, um futuro médico (...). E parece ser esse primeiro dito um representante do desejo, produto do cruzamento dessas linguagens.”(CARVALHO; OLIVEIRA, 1994, p.26.)”.
O analista por sua vez, precisa participar dessa construção lúdica e a partir disso a história da criança vai sendo contada. Deve ficar atento aos símbolos que a criança vai transmitindo.
Através do jogo, algo de subjetivo do sujeito pode ser revelado.
“ Jogar é antes de mais nada colocar-se no espírito do jogo,
numa abertura intencional para a instauração da ilusão. É um estado de “ faz- de – conta”, aquilo ao que as crianças tão propriamente se referem como não sendo “ de verdade” , mas “ de brincadeira”.( ROZA, 1993. p. 35) 1.
E com relação ao desenho, podemos dizer:
“ O desenho , é uma linguagem diferente da linguagem falada. O desenho é uma estrutura do corpo que a criança projeta e com a qual ela articula sua relação com o mundo.
Quero dizer que por intermédio do desenho a criança espaço-temporaliza sua relação com o mundo. Um desenho é mais que o equivalente de um sonho, é em si mesmo um sonho, ou se você prefere, um fantasma tornado vivo.O desenho faz existir, concretamente, a imagem inconsciente do corpo em sua função mediadora” .( DOLTO, 1991. p.28. in) .
È importante dentro da clínica psicanalítica, situar o brincar no campo da linguagem, pois é através dela uma das formas de se chegar ao inconsciente.
Segundo Winnicott é de grande importância a análise do brincar não ser restringida ao conteúdo do jogo, ele ressalta a necessidade de se falar dele no infinitivo. Brincar é antes de tudo um movimento, a ação da engrenagem que vai se movimentar infinitamente no sentido de originar interpretações.
Segundo a concepção elaborada por Jacques Lacan, “ o sintoma da criança da se acha no lugar de responder ao que há de sintomático na estrutura familiar. A articulação se reduz em muito quando o sintoma que vem dominar refere-se á subjetividade da mãe. Isso se correlaciona ao fantasma que a criança está implicada”. “ A distância entre a identificação ao ideal do eu e a parte tomada no desejo da mãe, se ela não tem mediação ( aquela assegurada normalmente pela função do pai) deixa a criança aberta a todas as capturas fantasmáticas. Ela se torna o “ objeto da mãe, e só tem como função revelar a verdade desse objeto”. Trecho retirado do texto de Jacques Lacan: “ Duas notas sobre a criança”.
Atender criança é saber lidar com a questão do silêncio, que freqüentemente mobiliza no analista sentimentos de impaciência, irritação, e mesmo impotência.
O sintoma é uma forma de endereçar aos pais um pedido de se fazer ouvir, uma forma de tentar encontrar uma saída para a realização do desejo que , para o eu, é insuportável. Sem o saber, a criança se confunde entre aquilo que pulsa dentro de si e a tentativa de satisfazer o desejo dos pais.
Muitas pessoas e até mesmo as crianças não entendem por que vão ao consultório de um(a) psicólogo(a) para ficar somente brincando, dizem que isso elas fazem em casa.
Com isso reforço que é através do brincar que a criança pode dizer de seu sintoma, seu viver, seu lugar na família, seu comportamento e atitudes.Mas isso não é regra, pois já atendi criança de 7 anos de idade que não queria saber de brincar, ficava na poltrona direcionado para mim e dizendo sobre suas coisas.
Lembro-me neste momento de Freud, onde diz que a estrutura se forma até os 5 anos de idade e que na clínica psicanalítica há um retorno do infantil.
Bibliografia:
CARVALHO, Luciane Bizari Coin de; OLIVEIRA, Silveira de. O atendimento de crianças: questões sobre a estrutura psicótica. In: BRAUER, Jussara Falek (org). A criança no discurso do Outro: um exercício de Psicanálise. São Paulo: Iluminuras, 1994.
Muitas pessoas e até mesmo as crianças não entendem por que vão ao consultório de um(a) psicólogo(a) para ficar somente brincando, dizem que isso elas fazem em casa.
Com isso reforço que é através do brincar que a criança pode dizer de seu sintoma, seu viver, seu lugar na família, seu comportamento e atitudes.Mas isso não é regra, pois já atendi criança de 7 anos de idade que não queria saber de brincar, ficava na poltrona direcionado para mim e dizendo sobre suas coisas.
Lembro-me neste momento de Freud, onde diz que a estrutura se forma até os 5 anos de idade e que na clínica psicanalítica há um retorno do infantil.
Bibliografia:
CARVALHO, Luciane Bizari Coin de; OLIVEIRA, Silveira de. O atendimento de crianças: questões sobre a estrutura psicótica. In: BRAUER, Jussara Falek (org). A criança no discurso do Outro: um exercício de Psicanálise. São Paulo: Iluminuras, 1994.
FREUD, Sigmund. Psicologia de Grupo e Análise do ego (1921). In:______. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. 1 ed. Rio de Janeiro: Imago, 1976. V. XVIII, cap.VII, p. 133-139.
FREUD, Sigmund. Três Ensaios sobre a sexualidade ( 1901- 1905)In: ESB, V. VII. 2 ed. RJ:. Imago, 1989.
ROZA, Eliza Santa. Quando o brincar é dizer: a experiência psicanalítica na infância. Rio de Janeiro: Relume – Dumará, 1993. p. 35
FERREIRA, Tânia. A escrita da clínica: Psicanálise com crianças.Belo Horizonte: Autêntica, 1999.p. 118
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