Psicanálise e Amor: uma transmissão.

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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O que é ser Psicanalista?


“O que é ser psicanalista”, me cheira àquelas do tipo o que é ser paulista, o que é ser mineiro, etc. Normalmente a resposta é um decálogo que enfeita os cardápios dessas cidades.
Aceitemos a provocação:

Ser analista:

É valer mais quando não se é que quando se é.
É emprestar palavra, corpo e ser para ser feito do que se quiser.
É amar incondicionalmente, sem qualquer reciprocidade, na paixão da ignorância.
É chegar sem ser avisado, no lugar da surpresa ou da assombração.
É passar por esquisito, mal educado, chato, sem poder justificar.
É, trabalhando o bem, vir a ter horror do seu ato.
É poder ser paciente no lugar do Outro.
É não governar, nem educar.
É saber o que faz, quando não sabe o que diz.
É ter saudade sem reivindicar, quando se chega ao fim.

 Dr. Jorge Forbes.


Para Lacan a psicanálise não é uma ciência, uma visão de mundo ou uma filosofia que pretende dar a chave do universo. A psicanálise é uma prática, onde através do método da livre associação chegaremos ao núcleo do seu ser. Ela é comandada por uma visada particular que é historicamente definida pela elaboração da noção do sujeito. Ela coloca esta noção de maneira nova, reconduzindo o sujeito à sua dependência significante.

"Para uma maior eficácia nesta investigação, utiliza-se de variáveis técnicas, que são uma questão de estilo, de convenção; o divã, por exemplo. Freud dizia que usava o divã por uma questão de preferência pessoal, pois não conseguia atender dez pacientes seguidos olhando para eles todo o tempo. Freud também percebeu que, para facilitar a obediência à regra fundamental, deveria sair do campo escópico do paciente, pois suas reações certamente influiriam na concatenação de idéias do analisante.

Se o paciente observar o analista, a associação não será tão livre assim, porque qualquer reação do analista pode, inconscientemente, significar algo para esse paciente e produzir uma modificação em seu curso associativo. A técnica da exclusão do analista do campo visual do paciente é uma forma de tornar mais pura a investigação, e de aproximar-se a uma condição em que o único estímulo para a associação livre seja o próprio psiquismo do paciente."

Cada analista lidará com essas variáveis de acordo com o modelo da própria análise, visando estabelecer o discurso analítico. Certos analistas, por mais que mimetizem a prática analítica de Lacan, nunca a produzem; por outro lado, outros, mesmo tendo características particulares bastante evidenciadas, possibilitarão o discurso analítico com facilidade.



A freqüência das sessões também poderia entrar nessas considerações, pois constitui uma das formas de o analista manter o discurso analítico. De qualquer forma, a priori, não há por que um número de sessões deva ser preestabelecido. Freud o fazia porque um de seus critérios técnicos rezava que a análise só seria análise quando houvesse transferência, e uma forma de consegui-la com maior eficácia era transformando o analista em “resto diurno”. Freud afirmava que quanto maior a freqüência das sessões mais facilmente o analista se instalava como resto diurno. É evidente que, estando presente na vida do paciente diariamente, o analista passaria a ser um resto diurno privilegiado.

Porém, cada analista saberá encontrar o ritmo que tiver a ver com a sua pessoa, com o seu estilo, com a sua forma de produzir a eficácia desse método, sem necessariamente recorrer a padronizações exteriores à sua própria escolha.

 Márcio Peter de Souza Leite.








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